Anauê: do pingado à picanha, o brasileiro tem fome.

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Por: Prof. Sergio A. Sant’Anna

A banda Titãs possui uma música chamada “Comida”, difundida ao final dos anos 1980 e início de 1990, cantei muito durante minha juventude, era apaixonado pela banda dos paulistanos. Nesta canção, em uma das estrofes, o grupo clama por mais cultura e mais lazer. Vivíamos um período em que a abertura, a liberdade era almejada devido à ditadura cívico-militar marcada em nossa história. Portanto, queríamos mais…ir além do pasto e da água versificados pelos garotos paulistanos.

Ainda na semana passada, enquanto escutava está canção, dialogava com minha esposa sobre o abuso dos preços conferidos aos diversos produtos componentes da cesta básica. Lembrávamos do incentivo, no passado, ao consumo de carne de frango, porém jamais me esquecerei do período dourado do Real, assim como, durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em que a carne bovina era produto obrigatório na mesa do cidadão brasileiro. Talvez essa ascensão dos desfavorecidos tenha incomodado muitos, que ainda não admitem essa transformação. A história demonstra que a nossa sociedade jamais permitiu que os populares ascendessem, desde o período em que éramos surrupiados por nossos colonizadores. O acesso ao básico, principalmente à infraestrutura é algo protelado pelos governantes, que avançam em suas campanhas eleitoreiras com esse discurso piegas de que resolverão tais problemas, todavia isso não passa de falácias, palanques para serem eleitos e desfilarem pelos doces encantos do poder. Como diria um dos personagens do inesquecível Chico Anísio: “Eu quero é que o povo se exploda”. E é assim. Aquele governante que começa a difundir programas de incentivo à população mais pobre acaba sendo “atropelado”, são retirados de circulação. A história é implacável nessa demonstração. E os acontecimentos recentes são muito límpidos diante desse reflexo: a panela de inox, pilotada por empregados, pois os seus donos não possuem a capacidade de cozinharem, não permitem o galgar de degraus e as políticas públicas de incentivo aos menos favorecidos.

Hoje eles vestem o verde e amarelo da antiga seleção canarinho, mas já bradaram “anauê”, aplaudiram aos militares que torturavam e matavam aos que lutavam em favor da liberdade; bradaram que vivemos um período de ascensão econômica durante o Regime Militar, difundiram que o racismo existiu apenas nos EUA, exaltaram coronéis sanguinários, aplaudiram discursos homofóbicos, condenaram a Arte e a Cultura, lançaram os seus opositores ao comunismo e socialismo – sem mesmo entender o que significam. Chamam professores de preguiçosos, chancelam a retropia ao pedirem o fechamento do STF, exaltam a morte de inocentes, destroem famílias, negam à Ciência, enterram sem piedade cidadãos, que morreram devido ao descaso de um presidente da República, que por onze vezes negou à aquisição de vacinas que salvariam a vida de milhares de cidadãos de bem. O analfabetismo político desses que se acovardam diante do diálogo e fogem diante do debate ou apelam para o tom pejorativo é tamanho, Brecht revira-se em seu túmulo. Mas eles estão satisfeitos, pois a corrupção acabou, principalmente, através das medidas implantadas pelo Messias que governa nossa Nação. “No tocante à corrupção, o Brasil é um País livre”, brada o Chefe do Executivo ao seu cercadinho.

Todavia, os fatos começam a demonstrar a engenhosidade da família Bolsonaro, que apenas almejou ao poder para se beneficiar dele. Dos cafés com pão e manteiga e o pingado, somos levados aos churrascos com picanha à mil e oitocentos reais o quilo. Isso mesmo. Churrascos, que revelam aglomerações, expõe seres humanos ao vírus e brinca com as nossas caras de palhaços. Atônitos. Letárgicos. Muitos mugindo. Tratoraços. CPI da Covid. Orçamento paralelo são títulos, que cada vez mais demonstram o monstro que os Doutores Frankensteins criaram. Um homem capaz de qualquer coisa para se perpetuar no poder. Aguardem…

Enquanto isso, em meio a essa pandemia, mais de 116 milhões de brasileiros passam fome. Um número, que é mais da metade do número de brasileiros, englobando pessoas que não se alimentam como deveriam, com qualidade e em quantidade suficiente. São cidadãos que nunca viram ou virão um pedaço de picanha pela frente, pois aquele que jurou lutar em favor do povo se lambuza com a picanha mais cara do mercado – e aos seus súditos: o resto. Por brioches, elbas, pedaladas rainhas e reis foram retirados de seus postos. O povo brasileiro merece uma mesa farta.

*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor de Redação nas Redes Adventista e COC em SC e jornalista.

**Os artigos assinados não representam a opinião de O Defensor!

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